quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AT2, M2


Ariane da Mota/ Professora de Língua Portuguesa

EMEF "Do Bairro dos Pinheiros".



Selecionei para estudo a “Estação de leitura” localizada nas páginas 13 e 14 do terceiro volume do Livro integrado de Língua portuguesa da quinta série (6º ano). A atividade, que pertence à área de língua e linguagem, consiste na leitura e interpretação do texto “A coruja e a águia”, uma fábula cuja autoria é remetida no material a Monteiro Lobato.
Enquanto gênero, pode-se dizer que a fábula, por seu caráter moralizante, interessa ao público leitor em geral. Contudo, essa função didática que assume tem nos últimos séculos sido dirigida primordialmente ao público infantil, de modo que é comum sua veiculação nos materiais didáticos da educação básica, como é o caso da presente atividade em análise. Ligia Cademartori, em “O que é literatura infantil” (2006), apresenta um parecer crítico bastante contundente, a meu ver, sobre os objetivos-funções da fábula. Na visão da autora, o gênero teria sua qualidade estética enquanto arte literária sobrepujada pela sua função predominantemente pedagógica, a qual assinala ela, utilizando-se dos termos bakhtinianos, ser de um notável e improdutivo autoritarismo monológico.
Na leitura da fábula, destaca Cademartori, não há produção criativa de sentidos; os pequenos leitores não se deparam com a multiplicidade de vozes típica do texto literário. O que há é apenas a “decodificação” de uma moral (uma única voz) que precisa ser “meramente assimilada” pela criança; esta, na sua concepção, sendo encarada tradicional e redutivamente dentro do gênero fábula, e também na sociedade ocidental em geral, como um ser de intelectualidade inferior aos adultos e que, portanto, necessita transitar da pura ignorância e ingenuidade ao “conhecimento do mundo”. No caso de “A coruja e a águia”, especificamente, tem-se um monologismo em torno da seguinte moral/tema: “Para retrato de filho, ninguém acredite em pintor pai. Lá diz o ditado: quem o feio ama, bonito lhe parece”. A história relata o seguinte caso: uma coruja pediu que uma águia não comesse seus filhotes, descritos pelo seu olhar materno como lindos e graciosos. A águia aceita o trato de paz, mas acaba inocentemente comendo os pequenos entes da coruja pelo simples fato de não achar belos os filhotes que encontrou em sua caçada, concluindo não serem eles os da ave “amiga”. Desse modo, o objetivo do texto e seu principal argumento corporificado na “moral da história” é fazer os alunos entenderem que pessoas se vêm de modos diferentes. A atividade como um todo ainda se desenvolve para que o aluno reconheça o conceito do gênero fábula (narração curta que transmite um ensinamento e cujos personagens são animais representativos de tipos humanos), bem como identifiquem a sua estrutura formal (duas partes subsequentes, consistindo a primeira no relato da história propriamente dita e a segunda na moral a ser “assimilada”).

CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura
infantil. 7. ed. São Paulo: Brasilense, 2006.

Um comentário:

  1. Ótima reflexão. Seus conhecimentos vão muito além de simples aplicações. A estrutura macro do gênero em questão é valorizada e a partir desses apontamentos você torna sua aula muito mais produtiva e interessante. Sem dúvida, quem ganha são seus alunos.
    Lido e comentado por: Letícia

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